terça-feira, 25 de outubro de 2011

Foice


                Já faz algum tempo. Semanas, meses, anos, não sei, perdi essa noção. Vago por essas paredes desde aquele dia. Onde aquelas crianças brincaram com nós. Desde então, estou aqui, preso, carregando a mesma foice que me deixou desse jeito. Olho pela janela. Já é dia novamente. Mas quando que a noite deixou de ser dia? Vai saber.

Tem um carro parado na frente da casa. Parece que alguém está se mudando pra cá. Um casal, pelo que posso ver. Eles parecem bem felizes. Ah, não importa.

Anoiteceu. Acho que não vi o tempo passar. Ou talvez seja assim que o tempo passe para os mortos. Enfim. Parado no porão, escuto os passos e as risadas dos dois. Isso me incomoda. Eles têm de ficar quietos.

Subo lentamente as escadas, arrastando a foice ruidosamente. As vozes da sala silenciaram. Um clima de tensão parecia tomar a casa. Medo. E eu gostava disso. O medo deles me fortalecia.

Abro a porta do porão violentamente. Eles deram um pulo no sofá, mas ainda assim, não me viram. Começam a olhar para os lados, tentando entender o que estava acontecendo. Mas não conseguem. Balbuciam algo como “foi o vento” e voltam a dar risada, tentando quebrar a tensão no ar.

Aproximo-me deles. A mulher era extremamente bela, com longos cabelos negros e traços bem definidos. Não me dei nem ao trabalho de prestar atenção nele, ela havia chamado minha atenção. Como seria provar do medo dela? Hmmm, a tentação é bem forte.

Minha presença ao redor dela fê-la arrepiar-se.  Ela estava me sentindo, sabia que tinha algo errado. Continuava a olhar para os lados, tentando procurar de onde vinha essa “sensação”. Mas de nada adianta, bela dama.

Eles decidem por sair da sala. Andam silenciosamente até o quarto, mas o medo dos dois é quase palpável. Sobem as escadas, e entram no quarto, o mesmo que aqueles pirralhos...

Paro em frente à porta. Uma segunda foice está dentro do quarto, junto com eles. Mas ela parece se mover por vontade própria. Move-se lentamente em direção à cama onde eles estão deitados.

- Mas quem ousa... – digo pra mim mesmo.

- Ué, Cris, esqueceu de mim? – uma voz feminina diz, ao lado da foice, materializando-se.

- Como poderia, sua vadia? – entro no quarto, com a foice em punho. – Já que por sua causa, Aline, estou preso nessa merda de casa.

- Ora, calma, calma. – ela disse, colocando as mãos em frente ao corpo. – Não vim aqui pra lutar com você. Até porque, por favor né, eu também estou presa aqui. Vim aqui por outro motivo.

- Então? – disse, ainda em guarda.

- Bom, percebo que você já notou esses dois aqui. – ela disse, apontando para a cama. – E também percebo que você já entendeu que quanto mais medo eles sentirem, mais forte você fica. Então, proponho um pequeno joguinho.

- Jogo?

- Quem de nós vai assustá-los mais? Ou melhor, quem vai convencê-lo de aceitá-las? – ela disse, apontando para sua foice.

- Hmm... Parece divertido...

- Ok então. – ela pegou a foice e arremessou-a contra a janela, quebrando-a. Instantaneamente, um vendaval invadiu o quarto. Os dois saíram rapidamente da cama, indo em direção à porta. Mas eles não iam sair daqui. Não com vida. Parei em frente à porta, deixando apenas ele passar. Quando ela passou ao meu lado, agarrei-a e joguei-a com força na parede do quarto, usando o vento que Aline havia criado para prendê-la.

- Eu não consigo me soltar! Anda, me ajuda! Me tira daqui! – ela gritava, ainda presa. O idiota ainda tentou entrar novamente no quarto, mas Aline o impediu, prendendo-o na parede do corredor.

- Eu acho que não, bela dama. – sussurrei em seu ouvido. Ela silenciou-se, fechando os olhos, congelada de medo.

            - Bela dama? Cara, você morreu e virou o que? Um velho antiquado? – Aline disse, ironizando.

            - Não se intrometa, vaca. – disse, devolvendo o insulto. – Agora, bela dama, – voltei a sussurrar no ouvido dela – você vai ficar bem quietinha aí, enquanto damos um fim nesse idiota. – ela abriu os olhos e voltou a gritar, dessa vez, o nome dele.

            - Então, eu primeiro? – Aline perguntou, andando em direção ao corredor. – Então amigão, - ela disse, dirigindo-se a ele, que até agora estava gritando por sua amada. – você tem uma chance. Ou eu mato sua patética namoradinha bem lentamente, arrancando pedaço por pedaço dela, ou você o faz.

            - Que merda é essa?! Quem é você?! – ele gritava. – Cadê você?! Anda, apareça!

            - Não se faça de idiota, você me ouviu. – dessa vez, ele silenciou. Parece que agora, ele estava vendo-a. – Sabe, essa foice aqui está tão sedenta por sangue... Talvez sua namorada vá servir. E sabe, - ela ficou a meio centímetro dele – eu estou um pouquinho sádica hoje. Torturar essa vadia até a morte vai ser uma coisa muito prazerosa. – ele arregalou os olhos e começou a se bater novamente na parede, desesperadamente tentando se soltar.

            - Não, me solta! Eu não vou deixar isso acontecer! – ele voltou a gritar. A bela dama havia parado de gritar e de se bater. Parece que ela tinha desistido.

            - Então, você pode impedir isso. Mate-a primeiro. Aceite essa foice e acabe com ela. – ele continuava a gritar, nem prestando atenção no que Aline dizia.

            - Bom, minha vez. – disse, me aproximando dela e ignorando o que Aline dizia. – Então, bela dama. Ele não vai sair daqui com vida. Mas eu quero lhe perguntar uma coisa. Você o ama o bastante pra não deixá-lo sofrer?

            - Eu... eu... – ela gaguejava, em prantos. - Eu não sei! Eu só quero sair daqui...  – a voz dela começou a sumir.

            - Você não vai sair daqui. A menos que escolha matá-lo e se salvar. Caso contrário, eu e minha “amiga” teremos o maior prazer de torturar suas almas até que vocês não aguentem mais.

            - Mas... Como... Eu... – ela apenas sussurrava.

            - Não se preocupe. Você só precisa me dizer sim. Então, essa foice irá lhe pertencer. E será com ela que você irá se libertar.

            - Eu... – ela continuava a chorar. Porém, ela me olhou pela primeira vez, e me respondeu. – Sim...

            - Muito bem então. – peguei a mão dela e coloquei a foice na mesma. Ela acabou se soltando da parede sem muita dificuldade, mas seus olhos já entregavam o que tinha acontecido. Sua alma não estava mais no corpo. Ela estava morta.

A casca, agora dominada pela foice, agradeceu-me, e saiu do quarto, em direção ao corredor. Segui-a, e vi que Aline não estava mais segurando a sua foice também, e que o idiota do namorado da bela dama também estava sem sua alma.

- Bom, acho que nós dois conseguimos. – Aline disse, dando as costas para os dois. – Vamos, é hora de irmos.

- Irmos? Pra onde? – perguntei, observando os dois corpos sem alma parados, ambos com a foice em punho, em posição de ataque.

- Essa casa não nos pertence mais. Agora, ela pertence aos dois. Você não lembra?  Temos uma dívida com aquelas crianças. Vamos achá-las. Está na hora de devolver o “favor”. – ela deu-me as costas novamente, e começou a descer as escadas. Ela estava certa. Aquelas crianças fizeram isso conosco. E elas iam pagar. Caminhei em direção à escada, escutando a doce melodia das foices chocando-se uma contra a outra, cortando o ar em direção ao corpo um do outro, alimentando sua sede... De sangue...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A casa


- Digamos que eu aceite esse desafio. O que eu vou ganhar em troca, Aline? – perguntei.

- Uma noite inteira comigo, com tudo que você quiser. – ela respondeu, com um olhar malicioso na cara.

- Hmmm... Interessante. Ok, eu topo. – respondi.

O desafio em questão era passar uma noite acordado na casa de um amigo dela. Aparentemente, a casa era assombrada e a família estava de mudança essa semana. Na verdade, ela já havia saído de lá, só deixou as coisas pra trás até conseguir tirá-las de lá. E claro, deixou alguém com as chaves da casa pra cuidá-la até então, que no caso, eram os pais de Aline. Pegar a chave deles sem que eles soubessem foi fácil, segundo ela.

Enfim, saímos da casa dela e fomos para a casa em questão. Era estranho acreditar que essa casa era assombrada. Ela tinha dois andares, um jardim bem cuidado e um acabamento impecável, toda em branco. Estava meio preocupado que nos vissem entrando na casa, mas já era noite, e ninguém prestou atenção em nós dois. Por dentro, a casa era mais bonita ainda do que por fora. Uma sala ampla, mobiliada com moveis bem antigos, ligava a cozinha com a escadaria próxima à porta, que levava aos quartos.

- Tá, vai ficar com essa cara olhando pra mobília ou vai se concentrar numa coisa um pouco... Melhor? – ela disse, andando sedutoramente para o sofá da sala.

- Não precisa chamar duas vezes. – disse, indo até o sofá e agarrando ela. Mas um barulho estranho nos impediu de continuar o que tinha mal começado. Era como se alguém estivesse subindo e descendo as escadas. – Cara, tu me disse que não tinha ninguém morando aqui.

- Mas não tem. – ela parecia desconfortável com isso.

- Tá bom então, vamos lá ver o que é isso. – disse, me levantando e indo em direção à escada. Mas ela continuou sentada. – Que foi, você não vem?

- Acho melhor não. Vai lá ver o que é, eu espero você aqui. – ela respondeu, ainda sem se levantar.

- Ah claro, tu quer ficar sozinha numa casa que você diz ser “assombrada”? Tá bom então, você que sabe. – disse, ironizando. Ela pareceu pensar e, relutante, levantou-se do sofá e veio até onde eu estava. Vai entender.

Enfim, paramos em frente à escada, mas não havia ninguém ali. Subimos as escadas e fomos abrindo um por um dos quartos, mas ainda assim, não havia nada.

- Eu não tô gostando disso cara. – ela disse, parecendo um pouco assustada.

- Ei, a idéia não foi minha. Você que quis vir pra cá. Mas, peraí, por que mesmo você queria vir pra cá? – perguntei, olhando para ela.

- Bom, já que não consigo passar nem dez minutos sozinha com você... – ela pareceu esquecer que estava assustada até 15 segundos atrás. – Eu acho que precisava de uma desculpa, não? – ela me abraçou e começou a me beijar novamente. – Então, o que você acha de... – ela foi interrompida com uma forte rajada de vento, vinda da porta. Ela abriu com muita violência, soltando uma rajada tão forte que quase nos derrubou. Porém, logo em seguida, ela fechou com a mesma força que abriu, e o vento cessou. Mas o barulho não. Parecia que cada uma das portas dos quartos estava abrindo e fechando do mesmo jeito. Agora, certo que tinha alguma merda enorme acontecendo aqui, andei devagar até a porta e tentei abri-la, sem sucesso. Alguma coisa tinha nos trancado lá dentro.

- Cris, o que tá acontecendo? – Aline parecia realmente assustada agora.

- Não sei Aline, mas nós não podemos ficar aqui dentro. Temos que tentar abrir essa porta e sair daqui. – tentei novamente abrir a porta, e Aline veio me ajudar, mas ainda assim, a porta não abria, e o barulho das portas abrindo e fechando lá fora aumentava de intensidade, como se elas estivessem abrindo e fechando cada vez mais rápido. Aline começou a chorar, e ficou agachada na porta, soluçando.

Abaixei-me e fiquei ao lado dela, esperando que esse barulho infernal acabasse. Passou-se um longo tempo até que isso acontecesse. Quando finalmente parou, levantei-me e tentei abrir a porta novamente, dessa vez, conseguindo. Saímos do quarto e vimos uma coisa diferente no corredor. Das quatro portas que havia antes, duas não existiam mais, eram apenas uma extensão da parede, e uma das portas dos outros dois quartos estava aberta. Alguma coisa estava me dizendo que devíamos entrar ali dentro. Caminhei vagarosamente até ela, com Aline atrás de mim.

Entramos no quarto, e ele estava da mesma forma que estava antes, cheio de decorações de menina e alguns brinquedos jogados no chão. Fui até o fim do quarto, mas nada parecia diferente, exceto por um em particular. Uma das bonecas que estava em cima da cama parecia olhar para nós dois com um sorriso irônico no rosto. Aquilo me causou um profundo arrepio. Aline, que desde que começou a chorar no outro quarto não havia dito nada, começou a se afastar com uma cara de pavor, apontando para alguma coisa atrás de mim.

- Aline, o que diabos você... – senti um frio estranho vindo dos meus pés, e foi quando vi o que ela estava tentando me avisar. Havia uma sombra negra encobrindo a parede toda, e ela estava começando a me cercar. Apavorado, corri pra longe da parede e saí do quarto, com Aline me seguindo de perto. Descemos as escadas e abrimos a porta, mas a visão que tivemos foi aterradora. Três crianças esperavam por nós em frente à porta, cada uma carregando uma foice banhada em sangue. Tentei fechar a porta e correr delas, mas as três levantaram as mãos em nossa direção e alguma coisa nos arremessou contra a parede, prendendo-nos. Gritei, me debati, fiz tudo que podia, mas não conseguia me soltar. Aline começou a chorar desesperadamente, também tentando, sem sucesso, se soltar.

As três crianças entraram na casa, aproximando-se de nós. A primeira, uma menina com longos cabelos negros, parou em frente à Aline e sussurrou alguma coisa que eu não consegui ouvir, mas que fez Aline silenciar na mesma hora. Ela ficou olhando fixamente para a criança, até que o que tivesse prendendo-a a soltasse, fazendo-a cair no chão. Ela se levantou, agradeceu a criança e pegou a foice dela, olhando com um olhar perdido para mim.

A segunda criança, um menino franzino com cabelos cacheados, andou até a minha frente e ficou parado, observando-me.

- Ela vai te matar, você sabia?  - a voz dele ecoava na minha cabeça, parecendo se divertir com a situação. – Você pode escolher morrer pelas mãos dela ou aceitar minha foice e matá-la.

- Eu nunca iria matar outra pessoa! Solte-nos e deixe-nos ir embora! – gritei.

- Ah, por favor. Não me diga que tem medo dessa garotinha? – ele disse, apontando para a menina ao lado de Aline. – Agora, ela está dentro da sua amiga. A única chance que você tem de sobreviver é matando-a.

- Eu... Eu... – Aline começava a se aproximar de mim.

- Ela está chegando. Não vou impedi-la, a menos que você queira lutar com ela. Então?

- Eu não vou lutar contra ela. - disse, soando mais decidido do que parecia.

- Que seja então. – ele deu as costas e saiu, ficando ao lado da terceira criança, uma menina com longos cabelos cacheados, que lembravam os dele.

Aline parou na minha frente, com a foice em punho. Seus olhos estavam brancos, como se tivessem perdido a cor. Tentei novamente me soltar, gritar pelo nome dela. Mas ela parecia não me ouvir. Aquela "criança" havia dominado-a. Enquanto isso, as três crianças estavam rindo, aumentando ainda mais meu ódio. Comecei a chorar, sem esperança. Ela havia partido. E me levaria junto com ela.


Ela levantou a foice sobre a cabeça, e a última coisa que vi foram as três crianças dando as costas para nós e indo embora de mãos dadas, cantando alguma música enquanto a foice caía sobre meu corpo, ceifando-me a vida...


            

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Casa Abandonada


            Meu trabalho já me levou a muitos lugares. Lugares que as pessoas não iriam por vontade própria. Lugares que até eu me arrependo de ter ido.

            Em uma das minhas longas caminhadas, encontrei uma casa perdida, numa área onde poucas pessoas moravam. Passando pelas outras casas ao redor, ninguém havia falado nada sobre ela, mas, por algum motivo, todos que nos atenderam ficavam olhando fixamente àquela casa. Quando questionados, eles acabavam por nos mandar embora sem falar nada. Mas, era nosso trabalho passar por lá.

            A casa, além de vazia, estava totalmente depenada, apenas um amontoado de paredes com um teto sobre ela, sem janelas, portas, quase sem divisórias dentro da casa. Entramos nela, eu e meus colegas. Enquanto eles passavam pelo lado da casa em direção aos fundos, eu resolvi passar por dentro da casa, indo também para os fundos.

            Mas me detive enquanto estava lá dentro. Primeiro, apenas senti. Tinha alguma coisa me observando. Meus colegas estavam gritando para que eu fosse até eles, mas não estava ouvindo-os. O clima daquela casa estava quase me sufocando, tornando meu caminhar lento e pesado, e quanto mais caminhava em direção à porta dos fundos, mais me sentia observado.

            Tentei resistir a olhar para trás. Mas não consegui. Dei as costas à porta e voltei-me para o que era antes um quarto (era a única coisa que ainda estava dividida naquela casa). Mas, estranhamente, nada havia. Apenas o mesmo vazio do resto da casa.

            Um pouco mais aliviado, voltei-me novamente para a porta dos fundos. Foi quando a vi. Uma menina, carregando um pequeno ursinho de pelúcia, olhando fixamente para mim. Seu olhar carregava uma energia pesada, a ponto de derrubar até mesmo o que restava daquela casa em pedaços. Minha mente gritava para que saísse correndo dali, mas eu estava totalmente paralisado.

            Ela começou a andar vagarosamente em minha direção. Quanto mais ela se aproximava, mais difícil ficava de respirar. A luz vinda da porta dos fundos desapareceu, deixando a casa as escuras. Enquanto tentava pensar numa forma de fugir daquela escuridão, um clarão parecido com um raio iluminou a casa novamente. Junto com a luz, a surpresa. As paredes da casa estavam cobertas de estranhas runas, todas desenhadas em sangue. No meio da casa, uma criança estava presa a um altar.  Mesmo sem conseguir vê-la direito, eu sabia quem era.

            Desesperado, tentei correr, mas a casa voltara à escuridão. Um novo clarão iluminou a casa, mas a criança não estava mais presa no altar. Aproveitando os poucos momentos de luz que tinha, olhei para todos os lados, procurando por ela, mas ela não estava em lugar algum. Instintivamente, corri em direção de onde a porta deveria estar.  Mas bati em alguma coisa pequena antes de chegar nela. Um terceiro clarão me mostrou o que era. Era ela, coberta de sangue, com um punhal dourado nas mãos, olhando maliciosamente para mim. A luz sumiu, mas com ela, a dor apareceu. Senti o metal frio me perfurando uma, duas, várias vezes, até que...

            - Cara, o que aconteceu? – meu colega olhava fixamente para mim, com nossa companheira um pouco atrás dele.

            - Eu... – eu estava... deitado? – Onde eu estou?

            - Você está na casa que entramos oras. Enquanto nós demos a volta, você resolveu passar por dentro da casa, e como você demorou a nos alcançar, viemos atrás de você, e o encontramos desmaiado no chão. Vamos, eu te ajudo a levantar.

            Ele me ajudou a levantar e saímos dali. Não quis contar-lhe o que tinha visto, porque... Bom, ele não iria acreditar. Mesmo assim, receoso, voltei meu olhar uma última vez para a casa. Ela parecia exatamente a mesma de antes de entrarmos, mas havia uma coisa jogada no chão perto à porta da frente: um pequeno ursinho de pelúcia...
           
           
           
            

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ok...

Revivendo dos mortos...



Bom, como comentei no comentário da minha outra história. Tanto eu quanto o outro dono do blog tínhamos abandonado o blog (seja por falta de ideias, seja por falta de vontade). Mas parece que ainda há pessoas vindo visitá-lo. Portanto, não acho justo deixar ele parado aqui por nada.

Mas confesso que por enquanto, não consigo me ver criando histórias de terror (ainda bem que meus pesadelos se tornaram mais suportáveis com o tempo, rs), pelo menos, não de minha autoria.

Abro algumas possibilidade a quem se interessar.

1: Quer compartilhar sua história, mesmo que você não saiba criar um conto? Diga-me qual é ela, e eu crio a história a colocar aqui, creditando a pessoa.

2: Tem seus contos? Converse comigo, eu irei abrir aqui a possibilidade de novos bloggers se juntarem ao blog e continuarem nosso trabalho de onde parou.

3: Quer apenas conversar sobre? Adicionem meu msn (que vou postar mais abaixo).

4: Na verdade, esse é um pedido. Eu não faço a menor ideia de onde foi tirada essa foto do topo do blog, mas preciso de uma parecida pra criar a nova "capa" do blog. Se alguém achar ela, poste nos comentários, por favor.

Bom, é isso. Add me se quiserem. felipe_elix@hotmail.com

Ps: eu, pelo menos, não considerei como história de terror, mas fiz uma outra história alguns dias atrás. Postei-a abaixo desse post. Leiam e vejam o que acham.

                Toda vez que olho àquele lugar, todas aquelas memórias voltam à mente. Memórias confusas, desconexas, mas todas com algo em comum: ânsia por sangue. Vingança. (...)

            (...) Havia desistido daquela vida sem sentido por ela, mas eu sabia que alguma hora meus fantasmas do passado voltariam pra me pegar. (...)

            (...) Naquela noite, enquanto voltávamos para casa, notei alguém nos seguindo. Tentei não alarmá-la, mas fiquei a observar nosso perseguidor durante o caminho. Sabia que se ele tentasse nos atacar, iria encontrar seu fim na lâmina de minha espada. (...)

            (...) Ela parecia tranqüila. Estava gostando do passeio floresta adentro. Dizia que quando chegássemos, iria retribuir a gentileza que estava lhe prestando essa noite, que minha companhia era tudo que ela precisava para ser feliz. (...)

            (...) Não havia notado o resto deles. Apenas quando chegamos à clareira no meio da floresta. Eles haviam nos cercado, mas eu podia vencê-los. Se estivesse sozinho. Seria perigoso para ela ficar no meio da batalha. (...)

            (...) Um por um, eles avançaram contra mim. Desembainhei minha espada e me mantive esperando a chegada. Um, dois, três cortes. Três corpos. Minha sede de sangue estava voltando, mesmo depois de tanto suprimi-la. (...)

            (...) Quando me dei conta novamente, minha espada estava banhada em sangue. Ao menos uma dúzia de corpos jazia ao chão, mas ao invés de estar assustada, sua expressão era tranqüila. (...)

            (...) Abracei-a, sussurrando que estava tudo bem e... A dor. Por tanto tempo, desconheci o que era. Mas o metal daquela adaga perfurando meu peito me lembrou disso. (...)

            (...) “Patético”, disse, carregando um sorriso malicioso. “Eu esperava mais deles, e de você também, mas todos serviram ao seu propósito. Agora, é sua hora de morrer. Aproveite seus últimos suspiros, idiota.” (...)

            (...) A dor era suportável, mas estava ficando fraco. Estava perdendo sangue demais. E havia alguma coisa errada, parecia que alguma coisa estava me queimando por dentro, circulando dentro de meu peito. Sem forças, caí. Traído por quem jurei defender. Amaldiçoando minha decisão. (...)

            (...) Não sei quanto tempo passou. Semanas, meses. Estava no escuro, sem ver, sem sentir, sem ar, sem chão. Era o nada. (...)

            (...) Acordei numa pequena cabana, onde uma velha senhora estava numa cadeira, fitando-me. “Finalmente se recuperou”, ela disse. Disse que havia me encontrado quase sem vida naquele lugar onde... (...)

            (...) Ela havia salvado minha vida. O veneno que banhava a adaga teria me matado mesmo que não fosse perfurado como fui. Ficou meses tentando retirar o veneno, esperando que um dia eu recobrasse a consciência. Eu o fiz. Mas só por uma razão. Não poderia descansar em paz até encontrá-la de novo. E fazê-la pagar. (...)

            (...) Muitos anos se passaram. Vivi nas sombras novamente, esperando pelo dia em que lhe encontraria.  E a encontrei. Observava-a cautelosamente. Seus olhos não tinham a mesma confiança da última vez. Agora, neles havia o mais profundo medo. De minha lâmina. De minha vontade. Do fantasma, sedento de sangue, que voltou para cobrar sua dívida...