segunda-feira, 3 de outubro de 2011


                Toda vez que olho àquele lugar, todas aquelas memórias voltam à mente. Memórias confusas, desconexas, mas todas com algo em comum: ânsia por sangue. Vingança. (...)

            (...) Havia desistido daquela vida sem sentido por ela, mas eu sabia que alguma hora meus fantasmas do passado voltariam pra me pegar. (...)

            (...) Naquela noite, enquanto voltávamos para casa, notei alguém nos seguindo. Tentei não alarmá-la, mas fiquei a observar nosso perseguidor durante o caminho. Sabia que se ele tentasse nos atacar, iria encontrar seu fim na lâmina de minha espada. (...)

            (...) Ela parecia tranqüila. Estava gostando do passeio floresta adentro. Dizia que quando chegássemos, iria retribuir a gentileza que estava lhe prestando essa noite, que minha companhia era tudo que ela precisava para ser feliz. (...)

            (...) Não havia notado o resto deles. Apenas quando chegamos à clareira no meio da floresta. Eles haviam nos cercado, mas eu podia vencê-los. Se estivesse sozinho. Seria perigoso para ela ficar no meio da batalha. (...)

            (...) Um por um, eles avançaram contra mim. Desembainhei minha espada e me mantive esperando a chegada. Um, dois, três cortes. Três corpos. Minha sede de sangue estava voltando, mesmo depois de tanto suprimi-la. (...)

            (...) Quando me dei conta novamente, minha espada estava banhada em sangue. Ao menos uma dúzia de corpos jazia ao chão, mas ao invés de estar assustada, sua expressão era tranqüila. (...)

            (...) Abracei-a, sussurrando que estava tudo bem e... A dor. Por tanto tempo, desconheci o que era. Mas o metal daquela adaga perfurando meu peito me lembrou disso. (...)

            (...) “Patético”, disse, carregando um sorriso malicioso. “Eu esperava mais deles, e de você também, mas todos serviram ao seu propósito. Agora, é sua hora de morrer. Aproveite seus últimos suspiros, idiota.” (...)

            (...) A dor era suportável, mas estava ficando fraco. Estava perdendo sangue demais. E havia alguma coisa errada, parecia que alguma coisa estava me queimando por dentro, circulando dentro de meu peito. Sem forças, caí. Traído por quem jurei defender. Amaldiçoando minha decisão. (...)

            (...) Não sei quanto tempo passou. Semanas, meses. Estava no escuro, sem ver, sem sentir, sem ar, sem chão. Era o nada. (...)

            (...) Acordei numa pequena cabana, onde uma velha senhora estava numa cadeira, fitando-me. “Finalmente se recuperou”, ela disse. Disse que havia me encontrado quase sem vida naquele lugar onde... (...)

            (...) Ela havia salvado minha vida. O veneno que banhava a adaga teria me matado mesmo que não fosse perfurado como fui. Ficou meses tentando retirar o veneno, esperando que um dia eu recobrasse a consciência. Eu o fiz. Mas só por uma razão. Não poderia descansar em paz até encontrá-la de novo. E fazê-la pagar. (...)

            (...) Muitos anos se passaram. Vivi nas sombras novamente, esperando pelo dia em que lhe encontraria.  E a encontrei. Observava-a cautelosamente. Seus olhos não tinham a mesma confiança da última vez. Agora, neles havia o mais profundo medo. De minha lâmina. De minha vontade. Do fantasma, sedento de sangue, que voltou para cobrar sua dívida...

Um comentário:

Icaro disse...

massa véio. a criatividade ficou show. parabéns!